top of page

 

 

 

 

 

 

Por que populações de origem africana?

Utilizamos este termo para nos referirmos aos africanos e afrodescendentes (filhos de africanos) que viviam no Brasil naquele período. Chamamos de populações porque os africanos que foram raptados  e trazidos para o Brasil pertenciam a diversos reinos e povos do continente africano. Cada um possuía costumes e atividades diferentes. Desta forma, valorizamos a diversidade que lá existia e que continou viva aqui no Brasil.

Populações de Origem Africana

 

         O Sul do território brasileiro recebeu nos séculos XIX e XX imigrantes dos mais variados países da Europa, com destaque para os italianos e alemães. Mas não foi somente da Europa que vieram os povoadores de Santa Catarina. Homens e mulheres africanos ou afrodescendentes também fizeram parte deste processo histórico. Contudo, estas pessoas foram excluídas da História, de modo a serem tratados como não existentes, em razão do preconceito existente ainda nos dias de hoje. Foi somente a partir de 1980 que a historiografia passou a estudar e evidenciar o papel de africanos e afrodescendentes em Santa Catarina, como participantes da formação étnica do Estado.

      Os dados estatísticos da época evidenciam a participação de pessoas escravizadas na província catarinense durante os séculos XVIII e XIX. Em todas as regiões brasileiras a escravidão existiu, sendo que em alguns locais a presença de escravizados era menor do que em outros. Em Santa Catarina, estas pessoas fizeram parte das expedições de conquista e ocupação, da construção dos fortes, nas fazendas de gado, nas armações baleeiras, servindo aos funcionários do governo, aos serviços de navegação e cabotagem, aos comerciantes, aos serviços domésticos; enfatizando-se o comércio, a pesca, e o setor agrícola.

      No planalto dos campos gerais da província catarinense, onde hoje localiza-se Lages, a presença de africanos esteve relacionada à atividade dos tropeiros. O Caminho das Tropas ligava as capitanias de São Paulo e Rio Grande de São Pedro, locais onde a escravidão era presente, principalmente relacionado com a pecuária no Sul do território. Na vila de Lages e nas fazendas da Coxilha Rica trabalhavam na lida com o gado, na lavoura e em serviços domésticos. Muitos dos homens trabalhavam também como tropeiros, responsáveis por guiar as tropas até o seu destino.

“Tropeiros pobres de São Paulo”: obra de Jean Baptist Debret registra a participação efetiva de africanos e afrodescendentes no cotidiano brasileiro do século XIX. Fonte: Debret e o Brasil: obra completa – 1816-1831, Capivara, 2008.

A atividade tropeira no Sul do Brasil no início do século XIX, presente nas aquarelas de Jean Baptist Debret. Fonte: Debret e o Brasil: obra completa – 1816-1831, Capivara, 2008.

      Em 1777, o governador da Capitania de São Paulo, o Capitão-General Martins Lopes Lobo de Saldanha, solicitou o primeiro cadastramento da população da vila de Lages. Antonio Corrêa Pinto de Macedo (capitão-mor regente da vila) declarou que a população era de 662 pessoas. Dessas, eram 367 entre brancos e pardos, 94 índios, 119 cativos e 10 pretos forros.

      O quadro da evolução populacional de Lages entre 1777 e 1808 revela que a porcentagem de escravizados em relação à população livre nestes primeiros anos após a fundação da vila é considerável, chegando mesmo, em 1788, a ultrapassá-la.

     O autor Fabiano dos Santos conta a história de Pai João, personagem importante de Lages no século XIX:

A propósito do emprego do negro na construção civil, há notícia sobre “Pai João”, mestre pedreiro e escravo originário de Angola que pertenceu ao fazendeiro Manoel Joaquim Pinto. Sua memória sobrevive no nome da Fazenda Pai João, em Lages, rebatizada depois que o cativo, conhecedor das propriedades medicinais da flora local, teria curado de grave doença o proprietário da fazenda. A tradição oral atribuiu a Pai João a construção de inúmeras sedes de fazenda, em alvenaria, da região da Coxilha Rica, dentre as quais a da fazenda Limoeiro, bem como a antiga capela de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora do Bom Parto, pertencente à Irmandade dos “homens de cor”, edificada na cidade de Lages na segunda metade do século XIX.

"

"

       Eram, portanto, estes homens e mulheres que construíram as casas da fazenda e da vila, que cuidavam das plantações e tratavam os animais. É nosso dever reconhecer a sua participação na construção de Lages e na manutenção do Caminho das Tropas.

 

Referências

 

SANTOS, Fabiano Teixeira dos. A Casa do Planalto Catarinense: Arquitetura rural e urbana nos campos de Lages, séculos XVIII e XIX. Lages (SC): Super Nova, 2015. Disponível em: <http://casadoplanalto.com.br/> .

 

VICENZI, Renilda. Presença negra no planalto catarinense. Revista Latino-Americana de História. Vol. 1, n° 4, dez. 2012, p. 54-67.

 

 

 

 

 

 

Glossário

Formação étnica: conjunto de povos que compõem um determinado território.

Cabotagem: navegação que se faz na costa, com terra à vista; navegação entre portos, com distância pequena.

Armação baleeira: estrutura litorânea para a caça ou pesca de baleia.

 

 

 

 

 

 

Glossário

 

Pretos Forros: Na época do Brasil Império os africanos eram identificados como pretos.  O termo forro significa identificava quem era liberto, isto é, que havia sido escravizado mas conseguiu a sua liberdade. Portanto, o termo preto forro refere-se a africanos libertos que viviam no local.

Cativo: indivíduo forçado à escravidão.

bottom of page